ESCRITOS

domingo, 31 de julho de 2016

Afinal, quem é Donald Trump?








Antes de começar a escrever, é preciso que algo fique muito claro: não sou eu quem deveria estar escrevendo este texto. Por quê? Ora, porque eu nunca entendi rigorosamente nada sobre os Estados Unidos da América - só sei que eles fazem filmes. E que lá tem mulheres bonitas. E que o Mc Donalds é de lá. Pois bem. Que fique claro, portanto, que as palavras que estão para serem escritas - e lidas - não são frutos do pensamento de um especialista - em tempos de "internetês", onde todos são especialistas em tudo, dizer que não se sabe é, entre outras coisas, um atestado de burrice ou humildade. 

O que escrevo, portanto, são apenas afirmações vagas, dúvidas, informações e divagações jogadas ao vento. Como assinante de alguns veículos de comunicação - Época, Época Negócios - e leitor ocasional de algumas outras publicações: IstoÉ, Piauí, Folha de São Paulo; muito tem me chamado a atenção a política norte americana - cujas eleições, diga-se de passagem, estão aí. 

Os Estados Unidos é um país presidencialista. Há dois partidos que, hora sim e outrora também, disputam as eleições. São eles: Partido Republicano e Partido Democrata. Direita e esquerda, grosso modo. Atualmente, o situação é o Partido Democrata, com Barack Obama na presidência da nação. 

O pleito neste ano será atípico. O que reina, até então, é - pelo menos ao ver de um espectador longínquo, que é o meu caso - uma profunda dúvida no tocante ao futuro dos Estados Unidos e, consequentemente, do mundo. Donald Trump - um bilionário que ganhou notoriedade ao apresentar um reality show equivalente ao que tínhamos no Brasil, O Aprendiz -  a priori era visto com descrédito pela mídia, no entanto alçou o posto de candidato oficial pelo Partido Republicano. Um polemista por excelência, tem deixado a flor da pele àqueles que defendem bandeiras tidas como "progressistas". 

No outro extremo há Hillary Clinton, política de carreira, mulher do ex-presidente Bill Clinton. Ela almeja ser a primeira presidente mulher dos Estados Unidos. No entanto, paira sobre ela - segundo, frise-se, as revistas e publicações que eu leio - uma aura de desconfiança. Acontece que ela está envolvida em um escândalo envolvendo e-mails sigilosos que foram mandados por servidores comuns. 

Pois bem, apresentados os atores da trama, sigo adiante. A grande figura dessas eleições, com certeza, é Donald Trump. Loiro, pele de cor alaranjada, rápido, autoconfiante, incisivo, o senhor de 70 anos divide opiniões. Digo que "divide" só para efeitos retóricos: a mídia nacional, ao que me parece, é unânime em ojeriza-lo. Porém, como tenho muitos amigos - muito mais informados sobre política americana do que eu -, posso dizer que, entre os meus contatos, há muitos simpatizantes do figurão. Adiante. 

Época e Istoé, na semana que passou, fizeram matérias semelhantes sobre o sujeito. Li as duas. Em suma, após ler as duas publicações, você passa a achar que o mundo está a beira do caos. Trump, segundo essas revistas, será a pior coisa que nos poderá acontecer. Xenófobo, homofóbico, racista e extremista são só alguns dos adjetivos usados para se referir a ele. E a análise segue para o seu eleitor: gente com pouco estudo, conservadora - no sentido pejorativo do termo -, armada e ressentida com a queda dos empregos e coisas congêneres. Na coluna de Helio Gurovits, na Época, ele cita as palavras que o autor da biografia de Trump, Tony Schwartz, teria dito para a revista New Yorker: "Pus batom num porco", e continua: "Tenho remorso profundo por ter contribuído para apresentar Trump ao mundo".  

Do outro lado, há os que comungam com as ideias e defendem o empresário. Homem de sucesso, que começou do zero - herdou o pequeno negócio do pai e conseguiu transforma-lo num império - Trump é visto como uma liderança para recuperar a América. Recentemente, um amigo me mostrou um vídeo - salvo engano o que foi apresentado na convenção do Partido Republicano - que mostrava ele como um bom pai, que trabalha com seus filhos e tem uma bondade singular. Dono de uma ânsia em ajudar os outros. Um sujeito forte, organizado e de sucesso que saberá conduzir o país rumo à prosperidade.  

Há quem diga que o empresário tem muitas chances: o povo americano está cansado dos políticos de carreira e Donald - um empresário bem sucedido e de fora da política - poderia saciar os anseios dessas pessoas. Há quem, do contrário, acredite que ele não tem chances, já que os "estados-pêndulos" [tradução: estados que ora votam em democratas, ora votam em republicanos] não votariam em um candidato tido como "radical". E mais: se Trump ganhar e tiver acesso aos códigos nucleares, poderemos estar perto do fim da nossa civilização. 

Entre aquilo que me parece um tanto alarmista demais - será que Trump, se chegar à presidência, fará mesmo tudo o que diz que irá fazer? - e o otimismo com o candidato, fico com a dúvida. E lanço a pergunta mais fatal dos últimos meses: afinal, quem é Donald Trump?

segunda-feira, 30 de maio de 2016

A verve não-existente


A caneca ao meu lado ainda está morna. O chocolate quente resiste bravamente a criação de nata. No meu celular ela digita. Há tempos - meses, anos? - não nos falávamos. 

Ela mudou. 

Não sei se fisicamente, nunca mais a vi. Talvez em ideia. Eu também mudei - a quanto tempo não escrevo? 

Como personagem dos quadrinhos deprimentes: é assim que eu me vejo. Minha vida passa em preto e branco. São sorrisos falsos. São alegrias tristes. Há anos. 

Lembro-me de como conseguia escrever. A minha verve não é mais a mesma. Tornei-me superficial. Em tempos outros, escrevi loucuras cheias de sentido. Hoje escrevo com uma sensatez vazia. 

Tornei-me decrépito. Não em idade, mas em esperanças. 

Ela - que permanece ali, na telinha do celular - tem uma melancolia que me faz lembrar a mim mesmo. Sou um narcisista da minha própria desgraça. Um contador de vantagem dos fracassos. Um competidor de malogros. 

Tudo o que eu escrevo tornou-se bobagem. Minha complexidade tornou-se simplória. Sou um escritor de diários adolescentes. Um colunista da idiotia. 

Quando voltarei a criar personagens? Quando voltarei a inventar enredos? Quando terminarei aquela história - arquivada, como meus sonhos - que refletia os medos que tenho? 

Eu não sei. Permaneço inerte.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Desamor

Eu não serei tua lembrança. Serei teu esquecimento. 


Quando estiveres a beber com os amigos, será de mim que você não lembrará. Quando a festa de pijamas estiver a acontecer, com as amigas, meu nome não estará na sua boca. 

Serei a palavra não dita. A poesia não-escrita. O verso que não ficou engasgado na garganta. Serei a promessa do choro que jamais se cumprirá. 

Eu serei a brisa que não te acariciou. 

Eu conheço mulheres como você. Elas sempre estiveram por perto. A me chatear. A me usar. Descartar. Serei a companhia antes da companhia de fato aparecer. 

Serei o bom sujeito que você irá tratar mal. Aquele pobre diabo que quer o seu bem e, por isso, serei o pobre diabo que você descarregará toda a sua revolta com os homens. 

Sou a vítima perfeita para uma algoz em fúria. Sou o bom homem que ninguém quer ter ao lado. 

Sou o ser sempre passível de críticas: sério demais, roupas sociais demais, ternos demais, cafés demais. 

E, do lado de cá, eu digo: compreensão de menos. 

Serei o poeta sem musa. O depressivo sem noite. O confidente sem voz e ouvidos. 

Serei aquele sujeito que não estará nas suas memórias. O não-amor da infância. Serei aquela foto esquecida na mudança. Sim, aquela na caixa de sapatos escondida no fundo da sapateira. 

Serei um nome entre tantos outros. Entretanto, serei o nome que não constará em sua lista de convidados. Eu fiz muito por você. A bondade sempre é vista com olhos cor de noite.  

Serei o antagonista dos seus sonhos. O coadjuvante sem papel. A promessa não cumprida. 

E, às vezes, quando penso em mim [e não em você], chego à conclusão: que seja. 

Mulheres que fazem gastronomia me atraem. Advogadas, não.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O Charme da Maturidade


Escrever sobre as mulheres é sempre um desafio. É como escrever sobre um segredo não revelado ou um dia que ainda não nasceu. É escrever sobre a descoberta da cura de uma doença que ainda não se tem conhecimento.

No entanto, escrever é isto: uma perene busca de conhecer o desconhecido - sem garantias de conhecimento. 

Nada mais interessante, porém, do que gastar o léxico a delinear sobre mulheres mais velhas. 

Mulheres mais velhas são um mistério. O desconhecido é fascinante.  

Mulheres mais velhas não nutrem ilusões na vida: são distópicas. Elas não procuram ideais - diria que são adeptas da realpolitik. 

Enquanto as pobres mancebas estão à procura - triste, infértil e burra procura - do sujeito ideal [leia-se ideal: aquele que faz tudo o que elas querem], as mais velhas aprenderam a triste lição de que não são o centro do universo. 

Mulheres mais velhas aprenderam o significado da palavra renúncia - coisa que só o dicionário da maturidade ensina. 

Enquanto as jovens estão todo tempo a falar, com ares histéricos, sobre tudo ao mesmo tempo em que cobram respostas e espasmos e olhares; as mais velhas aprenderam a silenciar. 

As mulheres mais velhas não se definem - são descobertas. As mais novas se definem com clichês. "Gosto de séries, filmes, cinema e barzinho". 

Às vezes tentam passar a triste e pernóstica imagem: "cinéfila, bazinga!, amplexos, existencialismo, feminista, I love Sartre". Perdoem-me leitoras, não quero me indispor com vocês: mas haja saco. 

A mulher mais velha passou pelas fases necessárias. Beijou todos os canalhas que poderia. Já não precisa impor a sua supremacia: ela sabe o quanto é forte. 

A mulher mais velha não precisa mais afirmar a sua independência tomando porres com bebida doce: ela é - e não parece ser - independente.

A mulher mais velha não precisa de um sujeito ao seu lado. A vida dela é plena. Ela tem dinheiro. Trabalho fixo. Sex appeal. Perspectivas. Se você tem ao seu lado uma mulher mais velha, saiba: ela está com você porque quer estar. Você não a completa, mas a complementa. 

Ao lado dela não há vacilo. Há aprendizado. Você se faz mais homem, amadurece como ela. A mulher mais velha não tem crises intermináveis - tem tempestades brandas. Até o choro é mais recato. O escândalo é silencioso.

O sonho de todo homem é ter uma mulher mais velha. E não só em idade. 

A senilidade pode chegar antes dos trinta. 


sábado, 9 de janeiro de 2016

O Luto do Cronista

Ela morreu. 

Quando criança, às vezes, eu chegava da escola e lá estava ela, a conversar com a minha mãe sobre as coisas da vida. O café ficava em cima da mesa e o cheiro era bom.

A presença dela - não sei por qual motivo - me trazia paz. 

Era uma senhora com muitas dificuldades. Não tinha dinheiro. Vivia uma vida sofrida tendo que, muitas vezes, assumir a função de mãe dos seus netos. 

Lembro-me vagamente de algumas vezes em que a minha mãe comprou pão e levou para ela em casa. Eu ia junto. Elas conversavam. O café ficava em cima da mesa. O cheiro era bom. 

Eu cresci. Ela me viu crescer. Quase me esqueci de escrever: as duas - ela e minha mãe - foram faxineiras juntas, na antiga empresa do "seu" Sérgio - o sujeito que deu um emprego para a minha mãe, mesmo ela não sabendo ler e escrever. 

Na última vez que a vi, pude ver as suas lágrimas ao saber da morte do mesmo "seu" Sérgio. Ela tinha muito amor no coração. 

De uns tempos para cá ela deixou de aparecer aqui em casa. Mesmo com as intempéries da vida - ela mudou de cidade, sempre perseguida pelas dificuldades financeiras - ela sempre viera nos visitar. 

Achamos estranho - eu e minha mãe - a ausência dela por tanto tempo. Procuramos. Tentamos telefones. Nada. 

Hoje a minha mãe me disse que encontrou outra amiga dos tempos de outrora. Perguntou sobre ela. "Morta há dois anos", foi o que ouviu.

Parte da minha infância morre com ela. As lágrimas não vertem em meus olhos - desaprendi a chorar - mas vertem em outras camadas de mim. 

Na minha infância a sua presença me trazia paz. Espero que onde estiver você possa sentir a mesma paz que há tempos me proporcionou. 

Descanse Célia. 

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Espero Alguém

Espero alguém que se irrite comigo quando eu me entristecer e que diga palavras de carinho quando eu me afligir. 

Espero alguém que me ouça quando eu falar demais, e que sorria com o meu ânimo ao falar do último filme que eu vi ou do último livro que eu li. 

E que esse sorriso venha acompanhado de pequenos pés-de-galinha no canto dos olhos - esses pequenos sinais são a maior prova de ternura que um olhar feminino pode oferecer.  

Espero alguém que não solte a minha mão, mesmo quando ela estiver soada. E que segure a minha mão com firmeza, mesmo quando a firmeza for a minha última perda. 

Espero alguém que pergunte do meu dia e que ouça com atenção os detalhes e se sinta feliz com a minha felicidade.  

Espero alguém cuja maturidade me faça ser um homem melhor, cujo pensamento me inspire a pensar e cuja conduta me ensine a valorizar. 

Espero alguém cuja bondade me faça lembrar da bondade de Deus. 


Espero - do verbo esperançar, ressalte-se - alguém que queira viajar para a Europa comigo, mesmo que eu não saiba metade dos países do continente.  

Espero alguém que queira conquistar a vida ao meu lado, que partilhe os sonhos comigo e que fique ao meu lado nas trincheiras da batalha - para conquistarmos as vitórias e dividirmos as derrotas. 

Espero alguém que faça o meu coração bater como nunca jamais bateu - que me faça, finalmente, entender o significado da palavra "amor"; mesmo que ela não tenha significação, mas existência. 

Espero alguém que anseie por amor, que ouça as poesias que decoro para falar no seu ouvido e que não ria pateticamente dos meus ares patéticos - mas que entenda que o romantismo é patético, e é este o seu charme. 

Espero alguém que entenda a minha natureza e não me julgue nem tente me modificar aos moldes de outros sujeitos. Espero alguém que entenda o significado da palavra singularidade. 

Espero alguém que queira cozinhar ao meu lado, mesmo que eu não saiba fritar um ovo - o destino, às vezes, nos presenteia com a ignorância para que possamos aprender ao lado de quem amamos. 

Espero alguém que frequente o teatro, o concerto musical e o cinema ao meu lado - e que faça isso se sentindo uma verdadeira dama ao lado de um cavalheiro. 

Espero alguém que tenha pressa de mim. Alguém que tenha saudade e não tenha medo de confessar. Espero alguém que tenha sofrido. Espero alguém com cicatrizes. Espero alguém que me venha pedir a cura de suas máculas e lembranças - e que ajudando-a eu possa me curar das minhas máculas. E das minhas lembranças. 

Espero alguém que saiba o valor das coisas. Que tenha consciência da vida. Que possua qualidades esquecidas. Espero alguém que se sinta fora do eixo. Espero um ponto fora da curva. 

Espero alguém que tenha pressa de amar, mas não tenha pressa de envelhecer ao meu lado - que aproveite os instantes consciente que em sua fugacidade eles são eternos. 

Espero alguém que careça de proteção, de cuidados, de ajuda. Espero alguém que eu possa socorrer. Espero alguém que me abrace e encha a minha camisa de lágrimas. 

Espero alguém que perca as palavras e fale com os olhos aquilo que as letras e as sentenças não podem traduzir.

Espero alguém que chore e me peça consolo.  

Espero alguém que me ame, mesmo quando eu mesmo não o fizer. 

Espero alguém. Só isso. 




Obs. texto inspirado na crônica "Venha, por favor", de Fabrício Carpinejar.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

2016: um ano de despedidas

QUE 2.016 seja um ano de despedidas: renunciar a tudo o que nunca se renunciou. As pessoas. As felicidades. As tristezas. Que o ano não seja um novo ano - as novidades me assustam - mas que seja um ano de misantropia. 

Toda tristeza está em nós. Faz morada no nosso âmago. É parasita de nossos sorrisos. Toda tristeza se externaliza em alguém - o alguém que não nos quer, que não retorna o nosso telefonema, que nos trai antes mesmo de nos ter. 

Por isso, meu vaticínio: que a tristeza permaneça, nesse ano, onde deve estar: dentro de mim. E que apodreça, levando-me à angústia indelével, maculada, solitária, pusilânime. 

Que nesse ano eu possa me despedir de tudo e de todos. Só tenho um desejo: misantropia. E - se possível - um café. Com ares blasé e livros ininteligíveis.